Tá na cara, sempre esteve

Política


(*) Jesus Guimarães

06/05/2024 - De repente parece que permeia os ares da política nacional uma tendência para amolecer, passar o pano do esquecimento nos crimes que Bolsonaro praticou na presidência e depois dela. Qual seria a razão dessa recaída? É verdadeira ou apenas um boato que a própria direita joga para o alto para ver se pega?
A rigor, as investigações continuam, acumulam-se delações, confirmando uma após a outra o que todos sabemos, até porque o ex-presidente e seus acólitos jamais cuidaram de bem esconder seus ilícitos e muitos deles precisavam ser cometidos a céu aberto sob pena de não surtirem o efeito desejado. Tinham, além disso, a doentia crença de que levariam tudo de roldão.
Bolsonaro sempre soube que lhe faltava competência para governar, que manter-se no poder não seria fácil e reeleger-se uma aventura arriscada. Assim, começou o seu governo postando-se frente aos quartéis a pedir apoio para pressionar o Congresso, fechá-lo talvez, bradando que não negociaria com ninguém. Não recebeu a ajuda reclamada e negociou criando o mais pesado esquema de corrupção para comprar apoio político, o tenebroso “orçamento secreto”. 
Tudo isso foi feito debaixo dos nossos narizes, diante das nossas vistas, por incontáveis vezes, escrito e gravado. O  que mais restaria a constatar?
Em 2020, composto com o Congresso, intensificava a sua arenga para promover o descrédito das urnas eletrônicas a fim de, se necessário, taxar de fraude sua possível derrota em 2022. Em 2021 jurou publicamente que não mais cumpriria ordens do Moraes, chamou-o de canalha, embora tenha lhe pedido perdão no dia seguinte. Em 2022 reuniu embaixadores de 40 países para “demonstrar”, sem provas, a insegurança do nosso sistema eleitoral que, curiosamente, o elegera presidente e várias vezes deputado (sic).
Sem convencer ninguém, exceto seus fanáticos seguidores, deu apoio a todos os ardis que eles puderam armar, valendo-se sobretudo dos milhares que infiltrou no governo. A PRF, comandada por bolsonarista assumido, garantiu mais de oitenta pontos de bloqueio nas rodovias nacionais tão logo a derrota emergiu das urnas, mantendo o oportuno clima de intranquilidade no País. Os acampamentos eram francamente apoiados pelas fardas e pelo presidente que os reconhecia como “manifestações democráticas”, apesar de clamarem exaustivamente pelo golpe de Estado. Subsiste alguma dúvida do envolvimento presidencial nessa história toda? Do Exército sob seu comando? Da PRF, idem? Das PMs?
Em 12.12.2024, com Anderson Torres nomeado secretário da Segurança Pública do DF e a consequente camaradagem da PM, as hordas bolsonaristas incendiaram ônibus e veículos, avançaram sobre as dependências da PF, quebrando e atirando coquetéis molotov. 
Na véspera do Natal, acampados do Quartel-General do Exército em Brasília tentaram explodir um caminhão tanque de combustível para aviões junto ao Aeroporto Internacional local, tragédia evitada pela incompetência dos terroristas que não souberam acionar o controle remoto da bomba.
No dia 08.01.2024 o Brasil viu cerca de duas mil pessoas, vindas de diversos pontos do País em ônibus fretados por empresários bolsonaristas, depredarem as sedes dos poderes da República sob a total conivência dos policiais militares daquela capital. Bolsonaro e Torres já haviam deixado as ordens e fugido para Miami para posar de alheios à barbárie.
Impossível esquecer que essa trilha de horror político, de afronta à Constituição, foi cumprida ao lado do intencional descaso no combate à pandemia, sob uma criminosa recessão econômica, cultural e educacional, amargando o aumento exponencial da fome e da pobreza no País sob a batuta do dissimulado Bolsonaro que, no apagar das luzes, ainda foi apanhado roubando e tentando vender nos EUA, joias milionárias pertencentes ao patrimônio público. 
Embora na reta final tenha evitado dar ordens diretas e abertas à sua legião de zumbis, tais ações nefastas foram desenvolvidas sob a orientação de políticos e autoridades diretamente ligadas a ele. Documentos encontrados, celulares devassados e múltiplas delações comprovaram exaustivamente essa cadeia de comando e a consequente responsabilidade do então presidente na prática desses crimes contra a nossa democracia, contra a Nação brasileira.
Não há razão para amaciar ou duvidar. 
Tá na cara, sempre esteve, para a perplexidade de todos.

(*) Jesus Guimarães é professor, bacharel em 
Direito, funcionário aposentado do BB e ex-prefeito de Tupã. E-mail: zuguim@uol.com.br

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