O bikini e a estatística: de amiga para inimiga

Geral


(*) Roberto Musatti 

05/02/2025 - Como todo bom economista/administrador sabe, dados podem ser "massageados" conforme os objetivos, a remuneração ou a ideologia de quem os analisa e produz as conclusões. Já dizia Delfim Netto, "estatística é como o bikini: o que ela mostra é importante, mas o que ela esconde é essencial". 
Dias atrás li um editorial sobre as estatísticas de comércio exterior entre os EUA e o Brasil que fundamentava o absurdo das políticas tarifárias de Trump, com a conclusão de que "o Brasil precisa tanto dos EUA como eles do Brasil". Discordo, embora torcendo que fosse verdade. 
A exportação total dos EUA somou em 2023 US$ 5,0 trilhões. A do Brasil, US$ 339 bilhões, cerca de 15 vezes menor. Os EUA importaram no total US$ 3,8 trilhões - o Brasil US$ 240 bilhões, 16 vezes a menos. Nas importações dos EUA, produtos brasileiros representam 1,07% do total. Nas importações brasileiras, produtos americanos representam 15,8% do total. Nas exportações ocorre o mesmo: as exportações americanas para o Brasil representam 1,2% do total e as exportações brasileiras para os EUA são 12,1% do total. Parece claro que Trump estava correto. 
Precisamos no Brasil de equilíbrio nas afirmações, especialmente no campo das relações exteriores,  abaladas com as gafes presidenciais. A resposta de Trump quando perguntado como seria sua relação com o Brasil e a América Latina, foi literalmente: "Muito boa, excelente - ELES precisam de nós... Muito mais do que nós precisamos DELES... aliás, todos precisam de nós" - afirmação correta: o mercado americano representa 12,8% do comércio total mundial. 
Trump usou este mesmo discurso ao taxar produtos da Colômbia, do México, da China e do Canadá em 25% na semana passada para conseguir seus objetivos. Em 4 dias conseguiu que a Colômbia aceitasse receber os imigrantes ilegais com ficha criminal presos nos EUA; conseguiu que o México colocasse 10 mil soldados na fronteira para impedir os cartéis de continuar o tráfego humano e o tráfico de drogas para os EUA; conseguiu que o Canadá colocasse também 10 mil soldados na fronteira e reservasse US$ 1.8 bilhão para projeto de segurança da fronteira com os EUA. A questão é simples e o Brasil é um bom exemplo: colocamos taxas de quase 100% nos carros importados americanos e os EUA tem no máximo 8% de taxas nos carros brasileiros importados. Isto não é livre comércio, é injusto comércio. A China faz dumping no aço dos seus carros, os exporta para o México, que daí vão para os EUA... Desde 1930 os EUA têm uma lei que isenta de inspeção produtos importados de até US$ 800. Em 2024 foram mais de 1 bilhão destes pacotes oriundos da China, provavelmente boa parte com fetanol. Trump também cortou esta farra.
Os EUA construíram o Canal do Panamá no inicio do século 20 e o governo Democrata de Jimmy Carter (tão ruim quanto Biden) deu o Canal para o Panamá para não ser chamado colonialista. No contrato havia a ressalva de não ceder o gerenciamento a outros países. A China (sempre eles) formou uma 'empresa' no Panamá e hoje domina o gerenciamento do Canal. Em caso de conflito, eles podem fechar ou tornar inoperante o Canal para os EUA, além de estarem cobrando tarifas mais caras dos navios dos EUA.  O secretário de Estado Mark Rubio esteve neste fim de semana no Panamá e já voltou com o compromisso panamenho de não renovar o contrato com a empresa chinesa, isentou os navios da marinha dos EUA e igualou as tarifas dos navios mercantes. 
O interesse de Trump em comprar a Groenlândia não é mentira, falsa ou "trumpista"- é estratégica. A China não tem possessões no Polo Ártico e pelo seu modus operandi pode dominar a Groenlândia com uma empresa de fachada como fez no Panamá, tornando o Norte dos EUA extremamente vulnerável - além das riquezas que o degelo vem ali revelando. Xi Ji Ping já viu que o jogo agora mudou: seu rival é tão competente quanto ele. 
Trump é presidente de ações - todas descritas em sua vitoriosa campanha eleitoral - o que está deixando toda a esquerda de cabelo em pé e a população americana que o elegeu em êxtase (excluindo a mídia psolista). Ele está governando para os EUA, não para os consumidores do resto do mundo. A fase das mentiras acabou - das tarifas altas de países porque estão em desenvolvimento, de bilhões de dólares para a Ucrânia, para a UNRWA, para a Organização Mundial da Saúde e para a própria ONU. Ele e Musk já cortaram mais de US$ 1.2 bilhão de gastos públicos woke em apenas uma semana. É a senilidade de Milei, Giorgia Meloni, Bukele e Orban.
Encerrando o assunto das estatísticas, parece que estamos voltando ao passado do Brasil antes do Plano Real, quando ninguém acreditava mais no IBGE e seus dados estatísticos. O mundo mudou e com ele as comunicações. Ninguém mais segue os noticiários/mídias tradicionais que reproduzem dados oficiais, 'massageados' como os da inflação de Pochmann. Se para o IBGE a inflação girou ao redor de 5% em 2024, para o consumidor brasileiro - agora acostumado a fazer contas, foi 14,2% o aumento na cesta básica em 2024,  confirmado pelo Dieese... e não há Alckmin que desminta.

(*) Roberto Musatti, economista (FEA-USP),  mestre em marketing (Michigan State University), doutor em marketing (California International 
Business University - San Diego)

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