Psicose puerperal: entenda o que é o transtorno que impacta mães e bebês

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24/03/2025 - O nascimento de um bebê é, frequentemente, descrito como um dos momentos mais felizes na vida de uma pessoa. Mas, para algumas delas, essa experiência pode ser acompanhada por uma condição devastadora: a psicose puerperal. Esse transtorno psiquiátrico pode transformar um período de amor e conexão em um desafio assustador.
O psicólogo Eduardo A. Amaro e a pediatra e neonatologista Clery Bernardi Gallacci, do Hospital e Maternidade Santa Joana, explicam detalhes da condição, como tratar e oferecer rede de apoio às mães e aos bebês. 

O que é psicose puerperal?
Trata-se de transtorno psiquiátrico que pode ocorrer após o parto e é caracterizado por sintomas como delírios, alucinações, confusão mental e alteração no comportamento. Esta psicose é diagnosticada em cerca de 0,2% das puérperas, mas apesar de rara é considerada como a emergência psiquiátrica mais grave na fase do puerpério e requer intervenção imediata.
“O principal sintoma é a quebra de conexão com a realidade, paranoia, insônia severa, mudanças rápidas de humor, irritabilidade extrema e pensamentos de prejudicar a si mesma ou ao bebê”, explica Amaro, coordenador do núcleo de Saúde Mental do Grupo Santa Joana.
O médico ainda destaca que esta condição é diferente da depressão pós-parto, “que é mais comum e se manifesta, principalmente, como tristeza persistente, ansiedade e fadiga, mas nunca com alucinações e confusão mental”.

Quais são as possíveis causas e como 
diagnosticar?
O diagnóstico é clínico e envolve a observação dos sintomas citados acima. No âmbito familiar, a sugestão do especialista é que pessoas próximas devem ficar atentas às mudanças drásticas e rápidas no comportamento da mãe e procurar ajuda profissional o mais rápido possível.
Ainda não há causas exatas para o surgimento deste quadro, mas o especialista aponta que “uma combinação de fatores hormonais, genéticos e bioquímicos contribua para o desenvolvimento” destes sintomas. Além disso, históricos da psicose, transtornos bipolares ou depressão na família também são considerados fatores de riscos.
“Não há exames específicos para prever a psicose puerperal, mas mulheres com estes históricos devem ser monitoradas de perto durante e após a gravidez, podendo se beneficiar de cuidados preventivos, incluindo medicação e acompanhamento psicológico”, recomenda o psicólogo.

Tratamentos 
disponíveis
Os cuidados, geralmente, envolvem o uso de medicamentos (como antipsicóticos e estabilizadores de humor) e terapia. Nos casos de risco iminente de dano a si mesma ou ao bebê, a internação pode ser necessária.
“A integração da equipe de profissionais que estão cuidando do binômio mãe e bebê é fundamental para o sucesso terapêutico. Os profissionais precisam conversar após cada avaliação da paciente para que as escolhas das condutas sejam assertivas para o bem-estar de ambos”, defende Clery Bernardi Gallacci.
É essencial o apoio de pessoas do convívio destes pais para que o tratamento seja realizado o mais cedo possível, já que o transtorno pode levar a consequências graves: risco de suicídio, infanticídio e deterioração significativa da saúde mental da mãe.
E, mesmo após o término do tratamento, Eduardo sugere manter um monitoramento regular em gestações futuras, pois “há um aumento do risco de reincidência, especialmente em pacientes que tiveram episódios anteriores de psicose puerperal”.

Rede de apoio
Os cuidados com a mãe se estendem para além do ambiente hospitalar. É extremamente importante que a família tenha ajuda nas tarefas domésticas, cuidados com os outros filhos, para fornecer apoio emocional, uma comunicação aberta, encorajar a mãe a seguir com os cuidados, incentivá-la a ter uma rotina ativa e com momentos de descanso e jamais julgá-la ou minimizar seus sentimentos. Em casos de sintomas mais graves, a recomendação é que mãe e filho sejam assistidos por 24 horas.
Outro ponto importante é que a abordagem no atendimento ao recém-nascido exige, obrigatoriamente, atenção à família que o paciente se encontra, e especialmente ao bem-estar da mãe. Há um olhar humanizado e atento para esta mulher que vivencia mudanças hormonais, muitas vezes sofre com a privação do sono, além de ser a principal responsável pela nutrição do recém-nascido e seus cuidados. Durante a consulta, o pediatra tem esse cuidado para que possa alcançar o bem-estar de todos.
Clery Bernardi Gallacci também chama a atenção para uma abordagem humanizada durante as consultas pediátricas. Com um olhar cuidadoso, o profissional pode identificar possíveis sintomas mais cedo e garantir o bem-estar de todos. Para isso, ela lista algumas recomendações:
- Realize a primeira consulta do recém-nascido entre dois e três dias após a alta da maternidade: “Esse momento de adaptação com o bebê demanda muitos cuidados e atenção e pode gerar estresse familiar”.
- Faça uma consulta pediátrica ainda no pré-natal: “Este período tende a ser mais tranquilo e muitas dúvidas podem ser resolvidas de antemão”.
- Atendimento humanizado: a atenção do médico também deve ser direcionada a esta mulher que “vivencia mudanças hormonais, muitas vezes sofre com a privação do sono, além de ser a principal responsável pela nutrição do recém-nascido e seus cuidados”.

Impactos na vida do bebê e da família
Os sintomas psiquiátricos citados anteriormente podem surgir entre dois e três dias após o parto e tendem a desaparecer nas duas ou três semanas seguintes, período chamado de “baby blues” (algo como “tristeza infantil”). Caso isso não aconteça, a psicose puerperal pode impactar significativamente no “vínculo afetivo da mãe com o bebê, além de impactar no desenvolvimento cognitivo, a saúde física e nutricional do lactente”.
Como uma coisa leva à outra, as oscilações no comportamento da mãe podem afetar os estímulos de desenvolvimento neuropsicomotor do bebê e até impossibilitá-la de prestar alguns cuidados, incluindo a amamentação:
“Em muitas situações, o uso de leite da própria mãe ordenhado ou uso transitório de fórmulas infantis de 0 a 6 meses podem ajudar na recuperação materna. Tais orientações aliviam a privação do sono, a sobrecarga da responsabilidade materna e ajudam na dinâmica familiar”, sugere Clery.

Restauração do vínculo entre 
mãe e filho
Apesar de raro, a psicose puerperal é considerado o transtorno mental mais grave 
Após o tratamento, restaurar a conexão emocional entre mãe e bebê é um processo que requer paciência e empatia. Profissionais de saúde podem auxiliar com estratégias como terapia de vínculo, incentivo à amamentação e atividades que promovam o contato físico e emocional.
“Abordar essas questões com empatia e suporte integral é vital para a recuperação e bem-estar da mãe e do bebê”, reforça Eduardo.

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