23/01/2025 - Quem nunca se apaixonou por um calçado e, mesmo que ele estivesse apertado nos pés, não deixou de usá-lo por priorizar a estética e deixar o conforto em segundo plano? O problema é que esse hábito pode trazer prejuízos, como alguns tipos de lesões e deformidades.

Insistir no uso de calçados menores que o pé pode desencadear algumas patologias ao longo do tempo, mas também a curto prazo. “O uso de calçados apertados e inadequados pode ser um fator predisponente ao surgimento de joanete, deformidade dos dedos, neuroma de Morton e outras metatarsalgias mecânicas, que são dores na parte da frente da sola do pé, na região dos metatarsos”, explica o ortopedista Fábio Datti, especialista em pé e tornozelo do Hospital Santa Catarina - Paulista.

A podóloga Maria Eliza Henriques Silva acrescenta ainda que o uso prolongado e constante de calçados pequenos, em comprimento ou largura, gera compressão e atrito: “E isso pode causar traumas, que por sua vez resultam em lesões nas unhas, pele, ossos e articulações.”

 

Quais os problemas causados pelo uso de calçados pequenos

Dentre os problemas causados pelo uso de  sapatos apertados, o médico destaca que a médio-longo prazo podem surgir calosidades nos dedos, metatarsalgia mecânica, neuroma de Morton e o joanete: “Assim como o Bunionette, uma deformidade do quinto dedo, o joanete invertido.” A especialista detalha os danos mais comuns:

· Onicofose, que é o excesso de pele nas laterais da unha/calosidade subungueal, encravamento,  hematomas;

· Calos nas laterais do 5º dedo, nos calcanhares, no dorso dos dedos, nas polpas dos dedos,  calosidades plantares, bolhas;

· Joanetes (hallux valgus);

· Dedos em garra, dedos em martelo,  sobreposição de dedos, que por sua vez provocam calos.

 

Entenda a relação dos calçados pequenos com joanetes e neuroma de Morton

O hallux valgus, conhecido popularmente como joanete, tem origem multifatorial e o componente genético é importante, afirma Fábio Datti.

“Então, existe uma predisposição individual. Mas o uso de sapato de bico fino, com a câmara anterior estreita, também é um fator predisponente”, afirma o ortopedista, acrescentando que é uma patologia que acomete mais as mulheres, numa proporção que chega a 20 para 1.

“Já o neuroma de Morton não tem tanta relação com o uso de sapato apertado. A etiologia dele é um pouco desconhecida, mas o sapato apertado na região anterior ajuda a piorar os sintomas”, alerta o médico.

Maria Eliza explica: “A grosso modo, o neuroma de Morton é um espessamento do nervo interdigital mais frequentemente entre os terceiro e quarto dedos, não tem causa definida apesar da crença que seja devido a traumas repetitivos relacionados a calçados estreitos, pequenos na largura.”

O tratamento para esse tipo de problema envolve a adaptação dos calçados e sessões de fisioterapia.

 

Saiba quais são os sinais de que os calçados estão causando danos aos pés

Os especialistas alertam que alguns sinais podem indicar que os calçados usados estão inadequados para o tamanho dos pés. Em algumas situações, essa diferença pode não ser tão óbvia porque o sapato está novo, por exemplo. O fato de estar apertado se torna uma justificativa, porém, é importante ter atenção.

“O calçado deve estar confortável já no momento da compra, não devemos contar que ele laceie”, aconselha Maria Eliza.

O aparecimento de dor, desconforto, calosidade no dorso dos pés ou na planta da região anterior do pé, alteração de cor e deformidades são alguns dos sinais de que há algo de errado.

 

Como identificar se o sapato está adequado ao tamanho dos pés?

A dica da podóloga é caminhar com o calçado e notar se os pés estão confortavelmente acomodados dentro dele, seja no comprimento, seja na largura. Ela sugere inspecionar os pés após o uso prolongado, procurando por bolhas ou vermelhidão, assim como identificar dores e desconfortos com o calçado nos pés e que aliviam após retirá-los.

Maria Eliza ensina um truque para ajudar a identificar se o sapato está no tamanho ideal para o seu pé.

“Em pé, pise sobre um papel de gramatura mais forte (papelão fino) e peça para alguém desenhar o contorno do seu pé. Recorte, coloque dentro do calçado e retire verificando se houve alguma deformação no molde”, ensina.

Outra dica sugerida é, quando possível, retirar a palmilha e pisar sobre ela observando se o pé está integralmente acomodado. A especialista alerta ainda que o material do sapato deve permitir segurar o dorso do pé: “Sem comprimi-lo, possibilitando que os músculos e vasos sanguíneos possam cumprir suas funções.”

Fábio Datti destaca que o pé é uma estrutura extremamente complexa e flexível, formada por mais de 25 ossinhos. Por este motivo, a escolha do calçado tem que ser feita levando em consideração a anatomia biomecânica do pé.

“Preferencialmente, as medições devem ser realizadas no final do dia, quando você tem aquele inchaço e o sapato, necessariamente, tem que ser um pouquinho maior do que o pé, para que ele o acomode bem durante o ciclo de marcha”, orienta.

 

Como identificar o tamanho e formato 

de calçado ideal 

para o seu pé

O ortopedista lembra ainda que certas características individuais devem ser levadas em consideração: “Existem pés que são diferentes, mais largos na frente, às vezes mais estreitos, então o sapato tem que acomodar o pé e ele não pode causar desconforto.”

Outras características importantes dizem respeito ao aspecto do solado, os rígidos e semirrígidos, indicados para pessoas com algum grau de dor na região. “Verifique se o sapato possui costuras grosseiras, esse fator para pacientes que têm algum problema de sensibilidade, alguma neuropatia secundária a diabetes é muito prejudicial”, afirma ele.

A dica da podóloga é que se priorize o calçado macio, com altura adequada para acomodar o antepé. “De preferência com o bico arredondado, no tamanho adequado, nem maior nem menor”, cita a especialista.

Maria Eliza afirma também que o calçado maior provoca atrito nas polpas dos dedos: “Na hora da compra, é importante andar pela loja e observar se tem pontos de atrito.”