Política é como nuvem...

Política


Por Robinson Ricci

25/06/2024 - Erguer paredes e enchê-las com teias de aranha para aparentarem muito antigas e inativas. Sabotar vagões de trem na madrugada congelante. Eis duas das criativas e arriscadas iniciativas adotadas pelos vinicultores das várias regiões da França - Champagne, Borgonha, Alsácia, Bordeaux, Vale do Loire - para protegerem as melhores safras de seus vinhos durante a ocupação nazista. Passagens como essas estendem-se pelas imperdíveis 254 páginas do livro "Vinho & Guerra, os franceses, os nazistas e a batalha pelo maior tesouro da França", de autoria do casal Don e Petie Kladstrup. Tais artimanhas levaram Claude Terrail, herdeiro do La Tour d'Argent, talvez o mais longevo e, com certeza, o mais famoso restaurante parisiense, a afirmar certa vez que "ser francês significa lutar por seu país e pelo vinho de seu país". 
Saltando um bocado de décadas, eis que o atacante francês Kyllian Mbappe, cuja mãe tem origem argelina e o pai é camaronês, consternado com o resultado parcial das eleições parlamentares na Europa, incentiva os jovens franceses a votarem no próximo pleito eleitoral porque "estamos num momento crucial na história do país". Mais uma vez. Mas proteger a produção de vinho não é a pauta e sim garantir ao menos a continuidade dos valores tão caros aos franceses: a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
2024 está mesmo com cara de ser um ano crucial e não apenas para os franceses. Também para os brasileiros já que, em poucos meses, teremos eleições municipais. No caso de Tupã, o cenário ainda é tão incerto que nem é possível arriscar algum palpite. Quem, nos últimos meses, acompanhou as costuras nos bastidores da política para definição de nomes para prefeito e para as quinze vagas na câmara, até agora não pode sequer afirmar se teremos chapas de situação e oposição. Quer ver?
Todos, absolutamente todos os nomes para pré-candidatos aventados até o momento de certa forma originam-se do mesmo agrupamento político. Significa que a linha ideológica e o modus operandi de gestão pública são os mesmos, talvez com quase imperceptíveis diferenças. É isso que provocava tamanha insegurança e, daí, tanta indefinição. Contudo, na semana passada, o que se desenhava no horizonte, de repente, mudou. Tínhamos, então, Wilson Quiles Junior e Eduardo Shigueru como pré-candidatos da situação e, provavelmente, Renan Pontelli e pastor Bruno Marquezi na oposição. Pois, em entrevista ao Rotativa no Ar, Anderson Medeiros ratifica sua pré-candidatura pelo Solidariedade. Logo a seguir, numa jogada até certo ponto surpreendente, ao mesmo programa pastor Bruno apresenta-se também como pré-candidato a prefeito, este pelo Podemos. Enquanto isso, corria solto pelos bastidores o boato de um duvidoso convite a Renan Pontelli para compor a chapa de Wilson Quiles Junior! Por aqui também vale a velha frase do ex-ministro e ex-governador mineiro Magalhães Pinto: "Política é como nuvem...".
Se este cenário se confirmar nos próximos dias, teremos três candidatos a prefeito. A questão que importará aos tupãenses, então, será: em quem votar? A despeito das questões de parentesco e compadrio pesando sobre o voto, algo comum em sociedades interioranas, para uma cidade que se encontra na confortável 143ª posição entre os 5.570 municípios brasileiros avaliados pelo Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR)*, haverá espaço para políticas públicas e modelo de gestão inovadores? Ao observarmos o perfil ideológico de uma chapa e de outra, fica óbvio que não há lá muita diferença. Ambos são neoliberais, de centro-direita tendendo para a direita. A gestão da coisa pública prioriza os investimentos em infraestrutura, a atração de pequenas e médias empresas (como vetores de geração de emprego) e a utilização dos recursos federais obrigatórios para saúde e educação, na eterna dependência de parlamentares estaduais e federais para a obtenção de recursos extras e muito pontuais que não permitem visualizar um conjunto integrado de políticas públicas para a cidade. Um modelo de gestão sempre muito vertical, com raríssima participação popular nas decisões que impactam o dia a dia dos tupãenses. 
Como Quiles é o nome garantidor do modelo de gestão atual, nossa atenção então se volta para os outros dois candidatos, Anderson e Bruno: seus discursos e condutas, mas, principalmente, a proposta de governo de ambos. É assim que poderemos ter alguma ideia se, após as eleições, algo mudará para valer ou apenas para que tudo continue como está. 

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