Futebol de praia em Balneário Camboriú

Esportes


13/03/2025 - Bem próximo do apagar das luzes dos incríveis anos 80, após concluirmos o ensino médio, eu e alguns amigos do icônico (para a época) grupo The Balla's nos encontrávamos em uma situação complicada, pois não tínhamos pago o famoso carnê da formatura. Isso significava que estávamos fora de todos aqueles festejos pós-final de curso e, o que era pior, da tradicional excursão de fim de ano. Mas, ao invés de aceitarmos a exclusão passivamente, resolvemos tentar uma última alternativa. Propusemos um acordo a uma das professoras responsáveis pela organização da viagem.
Como não havia mais lugares disponíveis no ônibus, sugerimos que, caso conseguíssemos chegar ao Balneário Camboriú por conta própria, ela nos cederia um quarto pelo mesmo valor que os outros alunos haviam pago. 
Para nossa surpresa, talvez duvidando que conseguiríamos superar as dificuldades da época e chegar até lá, ela fez uma proposta ainda melhor: caso conseguíssemos de fato ir, não precisaríamos pagar nada pelos dias de estadia. Tal proposta, da agora gentil "teacher", só nos motivou ainda mais. Fizemos as contas e dividimos as despesas entre nós e, assim, no dia combinado, os quatro "manés" caíram na estrada rumo ao litoral catarinense, a bordo de um possante Corcel II todo original, emprestado com mil e uma recomendações pelo pai de um dos amigos.
Foi uma viagem relativamente tranquila. Apenas em Curitiba, de madrugada, erramos a BR e, com isso, estávamos voltando à São Paulo, ao invés de descer para o Sul. Tem um desconto nisso aí, né? Pois, na época, não tinha o famigerado GPS. Mas nada que um retorno depois de alguns quilômetros não resolvesse.
Ao chegar à praia pela primeira vez na vida, ao invés de curtir a paisagem e as belezas naturais da região, o boleiro aqui foi logo atrás de um jogo de bola. Como sempre digo, vício pouco é bobagem, parceiro! 
Claro que curti um pouco a viagem, porém passei um bom tempo assistindo aos campeonatos oficiais de futebol de areia que aconteciam por lá, ignorando, às vezes, belas coisas que me cercavam. Se é que você me entende! 
E, por fim, acabei batendo minha bolinha nas areias fofas da praia de Balneário Camboriú. No primeiro dia, estranhei um pouco, pois a areia prende a bola, mas, depois do segundo dia, já estava adaptado. Afinal, apesar de um pouco úmida, lembrava o terrão que a gente tinha por aqui. Aí era só alegria.
De tanto assistir aos jogos e, depois deles, sempre bater uma bolinha com a rapaziada nas peladas informais que aconteciam ao longo da praia, acabei fazendo amizade com o técnico de um dos times que disputavam os campeonatos. Ele me deu uma elogiada de leve e eu, já salivando como um cachorro com sede, tratei logo de responder na linguagem da boleiragem, garantindo que era do ramo. Parecendo botar fé na minha conversa de craque, ele me disse que faria um teste comigo e me daria alguns minutos em um jogo no dia seguinte, pois seu time já estava classificado para a outra fase.
Fui embora para a pensão onde estávamos alojados, que ficava um pouco afastada da praia, feliz da vida. Aquela noite foi interminável. Nunca vi o tempo passar tão devagar! Mas a vontade de vestir a camisa de um time oficial dessa bela cidade catarinense superava qualquer ansiedade.
Finalmente, amanheceu. Tomei um café reforçado - afinal, tudo ali era de graça mesmo, e qualquer coisa fica ainda mais saborosa nessas condições. No entanto, ao chegar à praia, empolgado para o jogo, recebi a pior notícia possível: a rodada havia sido cancelada. Devido às chuvas, alguns times estavam com partidas atrasadas e precisavam disputá-las. Como a tabela era dirigida, resolveram cancelar os jogos dos times que já estavam classificados e os dos que estavam eliminados. Como havia muitas disputas ainda em aberto, decidiram fazer tudo naquele dia.
Foi um verdadeiro balde de água fria. Minhas pretensões utópicas de ser descoberto ali por algum olheiro dos grandes clubes do futebol brasileiro evaporaram na mesma hora. Era, como diria o saudoso Renato Russo, da Legião Urbana, apenas um devaneio típico de um jovem sonhador, uma ilusão de "lobisomem juvenil" - aquela fase em que resolvemos que tudo é possível, sem medir as barreiras da realidade. Depois disso, só me restou bater uma bolinha sem compromisso com a rapaziada e, enfim, aproveitar um pouco mais da praia, pois no dia seguinte já iríamos embora, já que, devido aos nossos trabalhos, voltaríamos antes da turma.
No dia da volta, compensamos a gentileza da professora e, a pedido dela, trouxemos um aluno que não se adaptou à praia e queria voltar de qualquer jeito. Também demos uma passadinha por Vila Velha, no Paraná, e, com o auxílio de uma potente câmera Kodak Instamatic 11, tiramos várias fotos com as pedras de diferentes formatos lá existentes.
No fim das contas, apesar do sonho de jogar de modo oficial na areia ter sido interrompido, foi uma viagem memorável, cheia de histórias para contar.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de rachão, quebra dedo, arranca toco, entre outros apelidos criativos."
https://futebolraiz100.blogspot.com

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