CHICO E A LEITOA

Esportes


5/7/2024 - Lá nas antigas que longe vão, os torneios na zona rural eram eventos considerados verdadeiras guerras dentro das quatro linhas. Devido à premiação distribuída ninguém queria perder, principalmente os locais que organizavam as disputas, sendo para eles uma questão de honra o bairro levantar o troféu.
O time em que eu jogava na época foi convidado para participar de um torneio desses, num importante bairro aqui da região. O dono do nosso time no momento do aviso de que iríamos disputar o torneio, nos pôs a par da inusitada premiação. Os prêmios seriam, caso fossemos os campeões, o tradicional troféu, uma quantia em dinheiro e que também teria um plus a mais, uma leitoa. 
O chefe prometeu que caso ganhássemos o torneio, ele iria fazer um churrasco usando a suína para isso. Sendo difícil de botar fé de primeira na promessa, pois o cara só vivia de fuleragem.
Churrasco naquela época era bem difícil para nós, devido ao nosso poder econômico baixo, aliás, até hoje. Então, seria um incentivo muito grande, pois além de fazermos o que mais gostávamos, ainda caso ganhássemos iriamos ter o sonhado "churras", e de graça.
A semana de torneio era bem concorrida, o assunto rendia muito, e no boca a boca mesmo, pois na época não havia as modernidades de hoje, como a internet ou o celular, então quando a rapaziada se encontrava a pauta era a esperada disputa, e dessa vez com um tempero a mais, a leitoa.
Enfim, chegou o domingão tão esperado, e o pessoal se reuniu na pracinha da casa de fogos, lá na baixada da Rua Guaianazes. Nesse local era o da concentração do nosso time, e de outros também.
Antes de subirmos no caminhão sempre fazíamos o tradicional rateio, pois muitos amigos não tinham grana suficiente para pagar a passagem, e assim não poderiam subir na carroceria. Como os melhores boleiros geralmente não tinham grana, nós, os bagres, dávamos um jeito, pois não podíamos deixar nenhum dos craques para trás.
Pendenga resolvida, subíamos na carroceria do "bruto", e partíamos felizes rumo ao campo de batalha do dia, nesse caso especificamente já sentindo aquele cheirinho imaginário de suíno assado pelas ventas.
Chegando lá no bairro a tabela de jogos já estava pronta, seriam sete times envolvidos nas disputas, e no sorteio feito momentos antes da gente chegar, nosso time ficou no chapéu. Como havia sete times envolvidos, só poderiam acontecer três disputas na primeira rodada, isso significava que só entraríamos na segunda rodada. Com isso já entraríamos direto nas semifinais e não pegaríamos de cara o time da casa, considerado o melhor até então, devido a vários fatores, como jogar em casa, torcida, árbitro, e o time ser bom mesmo. 
Antes de começarem os jogos, um senhor de nome Chico apareceu e anunciou que iria ser dele a doação da famosa leitoa. As más línguas, ou seja, os corneteiros de plantão da época diziam que ele só fez tal doação, pois tinha certeza absoluta de que o time da casa levantaria o caneco com os pés nas costas, portanto ficando tudo em casa.
O torneio foi seguindo e na segunda rodada, já na semifinal, nosso time ganhou o jogo pelo placar mínimo, e já estávamos na final, sem forçar muito. Ficamos assistindo então ao jogo do time da casa, que pela lógica, ganharia e seria nosso adversário na grande final. Mas não foi bem isso o que aconteceu, pois o time adversário, mais fraco tecnicamente, se fechou na defensiva e conseguiu segurar o jogo, levando a decisão para as disputas de pênaltis. E para o desespero do "homem da leitoa", o time da casa foi eliminado, ficando de fora da grande final.
Na final, apesar do nosso time ser melhor do que o nosso adversário, pelo tempo reduzido das partidas no torneio, igual ao time da casa não conseguimos furar a retranca dos caras. Mas o nosso time acabou sendo o campeão, pois acabamos ganhando nas disputas de pênaltis.
A seguir, os organizadores do torneio nos entregaram o troféu e a quantia em dinheiro, e alertou de que a entrega da leitoa era de responsabilidade exclusiva do doador. Ficamos ali esperando o homem aparecer, e nada, já escurecia e o pessoal todo praticamente já tinha ido embora e nada de leitoa. 
Fomos então perguntar para o dono do boteco, que já estava se preparando para ir embora, sobre o paradeiro do; o prestativo barman pediu para que esperássemos, que iria ver se o encontrava.
Demorou um tempinho e eles apareceram, com o prestativo homem do bar dizendo: - aqui está ele, resolvam ai. O velho já com a leitoa no colo, com cara de poucos amigos e aparentemente com o "carburador cheio", com uma voz bem pastosa, disse: - Vocês querem a leitoa né? Então vão pegá-la! Em ato continuo o fanfarrão soltou a leitoa no chão, tropicando nas pernas e quase caindo na sequência.
Após ser colocada no chão, a bichinha literalmente "virou um sorvete", e rapidamente desapareceu na escuridão da noite, em meio a um milharal ali existente.
O pessoal ficou revoltado com a atitude do velho, porém acabou deixando pra lá, afinal havíamos conquistado o torneio, e o prêmio oficial já estava na mão, e também houve a promessa de que o churrasco iria acontecer, independente da leitoa, Sinceramente, nunca fiquei sabendo se teve ou não o prometido churrasco de verdade, pois, após várias desculpas do dono do time em adiar a data, acabei desistindo de ir atrás, pois passei a jogar por outro time.

Texto: Paulo Cesar - PC
"Minhas divertidas aventuras pelo mundo do futebol de várzea, aquele que amamos chamar de 
quebra dedo arranca toco entre outros."
https://www.instagram.com/futebolraiztupa100/

Sua notícia

Esta área é destinada para o leitor enviar as suas notícias e para que possamos inserí-las em nosso portal. Afim, da população ter informações precisas e atualizadas sobre os mais variados assunto

Envie a sua notícia por e-mail:

Todas as notícias

publicidade