Varpa: Tipografia da Fazenda Palma foi tema de tese de doutorado na UERJ

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21/02/2025 - A tipografia da Fazenda Palma, no distrito de Varpa, completa no ano que vem 100 anos de fundação. Sua influência para o desenvolvimento regional foi abordada na tese de doutorado defendida na última terça-feira, dia 18, pela tupãense dra. Sibila Lilian Osis, no programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). 
A tese intitulada “A Tipografia da Montanha do Sol: Imigração, Imprensa e Educação de Letões em Varpa-SP (1925-1941)”, focalizou o exame da imprensa letã, na qual se compreendeu táticas de organização dos letos ao se estabelecerem no interior do Estado de São Paulo. 
A colônia de Varpa, fundada em 1922 na região da Alta Paulista, foi formada principalmente por imigrantes letões de tradição protestante batista, motivados por razões socioeconômicas e religiosas. Para preservar o vínculo cultural e a instrução, foi criada uma tipografia que produziu impressos em idioma letão. 
A investigação da dra. Sibila Lilian Osis analisou o processo de apropriação da cultura brasileira, a manutenção de aspectos culturais da pátria materna e a desprovincialização ocorrida com os imigrantes letões e com as comunidades com as quais tiveram contato. A investigação analisou os periódicos Meera Vehsts, Rihta Rasa, Jaunais Lihdumneeks e Kristigs Draugs, com foco sobre os temas de saúde, finitude de vida, subsistência, política, história e literatura, por meio dos textos publicados entre os anos de 1925 e 1941 na tipografia da Fazenda Palma, em Varpa. 
De acordo com Sibila, a imprensa letã se iniciou com Rosenbergs e Buckmanis e auxiliou a adaptação à nova pátria, ao destacarem temas relacionados a tratamentos em saúde e educação higiênica, em circulação por meios científicos à época. “Também foi suporte da apropriação de conhecimentos sobre as características naturais da região e de formas de subsistência”, afirmou. 
A seleção de aspectos da história e literatura brasileiras funcionou como expediente para conhecer a cultura da terra de chegada. “Assim, a questão do determinismo geográfico, dos conflitos locais, da exclusão social e da sobrevivência em ambientes adversos possibilitariam aos imigrantes aprofundar a compreensão das complexidades da sociedade brasileira”, explicou a pesquisadora.
Além dos impressos, as artes visuais e outras manifestações artísticas integravam elementos culturais e ajudaram a construir e expressar uma identidade letã-brasileira. 
A pesquisa ainda aponta que uma associação literária desencadeou um movimento de oposição às normas vigentes dentro da colônia, sugerindo disputas de poder que permeavam a organização interna da comunidade. 
Sibila explicou que o cenário político mundial dos anos 1930 foi amplamente abordado em publicações que reforçavam a identidade étnica, impulsionada por estratégias do consulado letão. “Houve críticas à invasão russa, à imposição violenta de integração da Letônia no bloco soviético e ao comunismo”, disse. 
Sibila explicou que, com o advento do Estado Novo e de sua ideologia nacionalista, ao impor uma política restritiva sobre a imprensa estrangeira, a produção da tipografia encerrou suas atividades em janeiro de 1941. “Esses impressos se tornaram fundamentais para a preservação da cultura e dos valores religiosos batistas, bem como representam o processo de desprovincialização dos imigrantes letões e das comunidades com as quais interagiram”, disse. 

A tipografia 
No ano de 1924, quando a Fazenda Palma ainda era um acampamento, um grupo de jovens com cerca de 35 anos se organizou sob a liderança de Rosenbergs para fundar um grupo literário e o primeiro jornal manuscrito de Varpa. “Ele foi manuscrito nas primeiras edições e depois datilografado por duas imigrantes”, disse Sibila, ao explicar que a tipografia foi instalada na Fazenda Palma no ano de 1926. 
A segunda fase da tipografia aconteceu entre os anos de 1926 a 1930. A terceira fase da tipografia se inicia com a publicação do Kristigs Draugs, com edição mensal. No ano de 1931 começam as publicações mensais que acontecem até o ano de 1941, momento em que os trabalhos são interrompidos por falta de recursos econômicos. 
Segundo a pesquisadora, a legislação na época exigia que os impressos em língua estrangeira fossem traduzidos e, por isso, precisariam de uma versão em português. “Isso elevava custos, incluindo os desafios econômicos da Segunda Guerra. Por causa disso, eles resolveram interromper [as publicações]”, afirmou. “No mês de fevereiro de 1941, Buckmanis falece. Mas eles retomam os trabalhos em 1946, que é a quarta fase da tipografia. Eles vão até o ano de 1981 produzindo impressos”, acrescentou. 

A influência da 
imprensa
Sibila explicou que o material impresso na Fazenda Palma possibilitou novos conhecimentos, inclusive para o desenvolvimento regional. “No ano de 1929, já conseguimos encontrar isso nos impressos”, disse. 
Parte dos impressos tem direcionamento religioso, reflexões espirituais, estudos bíblicos, mas também informações e educação para subsistência, educação para área de saúde, principalmente, nos primeiros cinco anos, entre os anos de 1925 a 1930. “Esse é o período que mais se publica sobre saúde, inclusive, como tratar ferimentos como mordeduras de cobras”, disse. 
Sibila destacou que nos impressos se estimulava a captura das cobras e o seu envio ao Instituto Butantã. “Então, o instituto mandaria os antissoros e seringas. No Museu de Varpa há recibos do Instituto Butantã. Isso mostra que, o que era publicado, tinha um reflexo na comunidade. Isso não ajudou somente Varpa, mas as comunidades ao redor. A publicação dos impressos possibilitou conhecimentos que podem ter sido compartilhados com as comunidades ao redor, como no caso do soro antiofídico, mas também cuidados para evitar a febre amarela”, completou. 

Desenvolvimento econômico
De acordo com Sibila, o que mais se destacou nos impressos produzidos pela tipografia da Fazenda Palma, em relação ao desenvolvimento econômico, foi a criação do bicho-da-seda. “No ano de 1929 eles já tinham a informação de que em Varpa tinha a produção de aproximadamente 33 mil pés de amoreiras. Isso foi publicado em artigo em 1935. Entre os anos de 1933 e 1934 na região tinha praticamente 235 sericicultores (criadores de bicho-da-seda) porque eles [os letões] tinham a cooperativa Amoreira, fundada em Varpa”, disse. “Essa cooperativa chegou a produzir 20 toneladas de casulos entre os anos de 1934 e 1935”, afirmou. 
A pesquisadora explicou que os impressos trazem o conhecimento da produção com artigos publicados sobre como criar o bicho-da-seda e como plantar a amoreira. “Para os letões, isso era totalmente desconhecido. A seda para a Letônia era só para pessoas com nível social muito alto. Eles trazem pessoas para ajudar no desenvolvimento econômico da região”, afirmou. 
Os impressos ainda apresentam o manejo no setor de laticínios, aviário, entre outros, que ajudaram a desenvolver ainda mais a economia regional, incluindo a educação. 

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