(*) Mário Bastos

03/02/2025 - As três gerações de gestores da Fazenda Guaiuvira, em seus quase 100 anos de história, sempre se preocuparam em manter a extensa área de vegetação nativa, que hoje chega a 1500 hectares. Nos anos 70, já sob os cuidados da segunda geração, dos irmãos Marcílio Villela Bastos e Marina Bastos Conde, que desmembraram a gleba original em fazendas Guaiuvira e Água do Cedro, foi feito um estudo e um plano de uso e ocupação das terras, para aumentar a área de mata e promover um plano de manejo usando tecnologias inovadoras para a época, como a curva de nível nas lavouras.
Nos anos 2000 uma das herdeiras da terceira geração, Regina Maria Bastos Conde, junto com o marido Carlos Marigo, soube reconhecer as belezas e a riqueza da mata e contratou um estudo científico que envolvia uma equipe multidisciplinar para pesquisar o solo, os insetos, as aves, os mamíferos, anfíbios, a flora, as nascentes e reservas de água, comprovando a relevância e importância da vegetação nativa numa região já considerada muito degradada do interior paulista. Trata-se de uma floresta de transição entre a Mata Atlântica e o Cerrado, denominada Floresta Tropical Semidecídua. 
Depois de 25 anos desse estudo e um propósito familiar de manter e até ampliar a área preservada, recebemos com grata surpresa o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) da Implantação do Contorno de Pompéia na Rodovia SPI-476/294, que cruzará a Rodovia SP-294 em dois pontos entre o km 476+480 e km 494+00, e que fazem parte do processo de licenciamento ambiental da Eixo-SP, empresa responsável pela rodovia concessionada. 
A leitura atenta do EIA/RIMA da Eixo, em comparação com o estudo feito nos anos 2000 pelas fazendas Guaiuvira e Água do Cedro, mostra que as estruturas de fauna e flora não só se mantiveram, como em alguns casos, aumentaram. O estudo foi apresentado em audiência pública no último dia 22, em Pompéia, SP.
Apesar do EIA/RIMA não ter sido elaborado na mata das fazendas, entendemos o quanto o trabalho de preservação foi importante para a região. Mesmo considerando o baixo impacto ambiental da obra, já que o contorno se localiza numa área com poucos maciços de mata.
Semelhantemente ao estudo que realizamos nos anos 2000, o EIA/RIMA da Eixo-SP apresenta a identificação de 14 espécies de anfíbios e 4 espécies de répteis, todas nativas do Brasil e que ocorrem naturalmente na região. O estudo também identifica 113 espécies de aves, sendo que nenhuma está ameaçada de extinção, sendo todos nativos do Brasil e que ocorrem naturalmente na região, com exceção da pomba doméstica (Columba livia) e do pardal (Passer domesticus).
O estudo afirma que, "há aves cuja sobrevivência depende de um ambiente específico para seu habitat, como as que dependem de matas. Tais espécies associadas a áreas florestadas são, portanto, mais sensíveis às perturbações, principalmente ao desmatamento, podendo ser consideradas ótimos indicadores para avaliação da qualidade do ambiente". Pode-se afirmar, portanto, que a presença do maciço de floresta das fazendas, contribui de forma decisiva para a sobrevivência dessas espécies. 
Na região onde será construído o contorno, segundo o EIA-RIMA, foram encontradas três espécies de mamíferos terrestres de pequeno porte, além de oito espécies de mamíferos de médio e grande porte, entre os quais se destacam o macaco prego preto (Sapajus nigritus), espécie endêmica do bioma Mata Atlântica, e a anta (Tapirus terrestres), espécie classificada como "Em perigo" segundo a lista estadual de espécies ameaçadas.
Mesmo após o incêndio severo registrado na mata em setembro de 2024, conseguimos registrar diversas antas buscando alimentos nas áreas onde foi feito o trabalho voluntário de colocação de alimentos e água para os animais. O que mais uma vez corrobora o entendimento e a importância da área de preservação. 
Nós, como família, assumimos o compromisso com a manutenção e preservação da mata. Mas considero de fundamental importância que a população de Pompéia e região a tenha como um grande ativo, um patrimônio ambiental de todos. Não temos dúvidas em afirmar que a mata das fazendas Guaiuvira e Água do Cedro representa um patrimônio ambiental para toda a região, na medida que fixa carbono, absorve o calor, preserva a água e ainda dá abrigo e alimentos para a fauna, contribuindo para o equilíbrio ambiental. Vale destacar que restam apenas 5% das florestas primitivas no Estado de São Paulo, distribuídas principalmente nos Planaltos Ocidental e Atlântico do território paulista, segundo o relatório.
É necessário um esforço conjunto entre governos, organizações não governamentais, cientistas e a sociedade para desenvolver e aplicar políticas eficazes de conservação. Educar a população sobre a importância da biodiversidade e das florestas, bem como sobre os impactos negativos do desmatamento, é crucial para garantir o apoio às iniciativas de preservação.
A sustentabilidade ambiental não é apenas uma responsabilidade ecológica de alguns, mas, uma necessidade para garantir a sobrevivência das gerações futuras.
Prestes a completar um século de história, a terceira geração desenvolve na Guaiuvira e Água do Cedro um projeto de pecuária e o gerenciamento ambiental da mata de forma conjunta. Como gestores, fazemos questão de manter a essência de nossos valores na vocação da terra e no compromisso com a preservação ambiental e o manejo sustentável.

(*) Mário Bastos é zootecnista e gestor da Fazenda Guaiuvira, onde se concentra grande parte do maciço de 1.500 ha. de mata nativa na cidade de Pompéia